10/10/2015

P-U-N-C-H (RS)




Acredito que essa tenha sido a percepção mais difícil de escrever. Há tempos, eu não presenciava algo semelhante. Sabe quando uma pessoa muito sensível vai assistir a uma peça tão forte que lhe toca no que há de mais íntimo e profundo? É necessário um tempo para compreender tudo o que começa a passar por nós. Assim, só agora consigo escrever sobre. 


Eu já sabia do que a peça tratava, e me interesso bastante pela temática escolhida. E colocar isso tudo numa ópera é uma ideia deveras tentadora. Pois é essa junção das artes que dá maior intensidade ao que será apresentado. Dança, música, teatro... Quando é bem feito, toca o público. E foi isso o que aconteceu. Bastou olhar as expressões dos espectadores, seus comentários durante o espetáculo, a forma como eles saíram do teatro, etc. 


Começando pela cena inicial: o som da orquestra junto aos movimentos lentos do bailarino atravessando o palco. Essa mescla entre sonoridade intensa e movimentação lenta se repete pela peça. O resultado em mim foi uma tensão pelo meu corpo. Era como se algo estivesse sendo preparado para ser realizado. Como se cada micromovimento resultasse na força e agilidade representada pelo som dos violinos. Como se cada lento e calmo micromovimento tivesse outra intenção: a da pressa e da voracidade. 


 Movimentos que se repetem. Movimentos que se repelem. Que se aproximam. Que se chocam. Que gritam. Que sussurram verdades em nossos ouvidos cardíacos, emotivos. 




 Por uma noite. Por apenas 1h40min de uma noite, eu pude ter uma clara ideia do que cada uma daquelas pessoas sentiu. A dor, as dúvidas, o medo, as incertezas. Cada momento me surpreendia. Independente de eu ter conhecimento ou não do que ocorreria - afinal, muitos amigos que assistiram, comentavam bastante e demonstravam o quanto o espetáculo os afetou. Conhecendo ou não, os momentos me impressionavam. Era mais tocante o "Como aconteceria" ao invés de "O quê aconteceria". 


Um dos momentos era a cena em que uma das bailarinas tinha o cabelo raspado em cena. Eu só percebi que aquilo aconteceria quando enxerguei a máquina no bolso do ator que a carregava. O instante, por mais rápido que tenha acontecido, tornou-se uma tortura. Pessoas ao meu redor murmuravam: "Ai não", "Não, não, não...!". E eu refletia se a dor maior era do público ou das pessoas que passaram por isso naquele período. Qual é a distinção entre essas dores? Essa cena foi tão chocante que eu não percebi que os demais atores tinham trocado de figurino em cena. Só entendi quando os vi com outra roupa. Os meus olhos só acompanhavam o movimento preciso da máquina pelos cabelos da atriz e o olhar expressivo dela, como se estivesse encarando algo. A si mesma. A situação. Ou cada um de nós presente naquela plateia. 


Apesar de ter momentos que nos perturbem emocionalmente, o espetáculo apresenta outros que podem demonstrar graça ao público. Um deles é a cena dos dois generais na mesa de jantar. A tensão inicial logo se mostra com um belo toque de sarcasmo e ironia em relação ao íntimo daqueles dois homens de poder. Até onde vai toda a brutalidade que demonstram? O que há no mais profundo daqueles seres? 


O que há de mais profundo em nós? Somos espectadores passivos àquilo que está sendo apresentado em cena? Acredito que, pelos olhares e feição de cada um presente, P-U-N-C-H foi um belo de um "soco" em nossa consciência. Em nossos sentimentos. 


Por Manu Goulart




Ficha Técnica

Direção Geral, Direção Musical e Concepção: Christian Benvenuti
Direção Coreográfica: Silvia Wolff
Direção Cênica: Alexandre Vargas
Criação de Luz: Maurício Aguiar de Moura
Cenografia: Elcio Rossini
Criação dos Figurinos: Carolina Di Laccio
Direção de Vídeo: Eny Schuch
Produção: Débora Plocharski Borges/Tribolê Produtora
Elenco de Intérpretes/Criadores: Alessandra Souza Alexander Kleine Andrew Tassinari Consuelo Vallandro Cristiane Bocchi Débora Jung Bonzanini Gabriela Guaragna Giuli Lacorte Guilherme Conrad Gustavo Duarte Jaime Ratinecas Jeferson Cabral Julia Bueno Walther Luana Camila Luciano Souza Manuela Miranda Matina Banou Renan Santos Silva Viviane Gawazee
Assistência de Produção: Karenina Benvenuti e Matina Banou
Identidade Visual:Christian Benvenuti

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