12/10/2015

Meredith Monk & Vocal Ensemble: The Soul’s Messenger (EUA)




Ah – Mmm – Ah – Mmm – Ah – Mmm
Hey – Hey – Hey – iiiiiii
Ah! – Ahhhh – LaLaLaLaaaaa – LoLoLo – Si Na Maaaa    
Trees - Trees - Oh trees - Trees - Birds - Coffe - Coffe - Coffe - Do you remember? - Do you remember? - Do you remember?

           
Pra mim não existe descrição melhor do espetáculo musical de Meredith Monk do que essa: um anjo no palco e seus companheiros alados. Olha, pode parecer bobagem ou até mesmo incabível essa comparação. Mas não é. Se você esteve lá você sabe. Dividir o mesmo tempo e espaço com a voz de Monk e sua companhia é se permitir ouvir a ousadia solar e lunar da criação. A sensação de que presenciamos um momento raro ficou marcada em mim. Por isso eu digo que somente um ser estelar poderia construir paisagens, sentimentos, pensamentos, sensações e vibrações com a própria voz. É como se tudo o que a voz de Monk tocasse sofresse uma alteração química e física em sua constituição original.


Era interessante sentir a plateia em estado de contemplação, leveza, serenidade, encantamento. O tempo parou e cada um mergulhou na sua infância, nos momentos marcantes de amor e horror, nos traumas e nos exemplos positivos. Viagem é a palavra perfeita para descrever a experiência “Monk”. E você pode ter certeza que ninguém trilha o mesmo caminho nessa viagem.


Preciso admitir que eu gostaria de ter permanecido nesse estado profundo de interiorização, de mergulho interno e encontro consigo. Mas teve uma hora que eu me senti incomodado e cheguei até a sentir um desconforto, pois parecia que o tempo estava demorando para passar. A bolha “Monk” rompeu e eu me vi escutando a respiração profunda da espectadora do meu lado que parecia estar em um sono profundo.




De repente a “grande sacada” do espetáculo, sua essência, a linguagem própria, inventada, os ruídos para entrar em transe e o chamado dos anjos pareceu perder completamente o sentido e eu caí da minha nuvem de encantamento. Pensei que muitos devem sentir isso em determinado momento. Pensei em quantas pessoas sentiriam isso durante todo o espetáculo e naquelas que nem por um segundo sentiram isso. Pensei: essa obra de arte é universal, é para todos. Mas ao mesmo tempo não, é para poucos. É para os que têm gosto refinado e muito conhecimento teórico. Capacidade de abstração. Será?


Como eu gostaria de parar de pensar e apenas curtir. Sentir. É isso! Talvez esse seja o segredo da experiência “Monk”. A ênfase está no sentir. A partir do momento em que a mente interrompe a leitura intimista do ser que sente, a mágica desaparece. O “sentido” desaparece. Estou certo de uma coisa: a mensagem da alma está muito além dos domínios mentais. É o eterno mistério que pulsa e vibra em cada um, que está registrado encima e embaixo, à esquerda e à direita de cada um, mas ainda assim podemos ignorá-lo. Monk é uma experiência única de abertura de um olho interno, a grande porta da percepção.


Por Guilherme Nervo





Ficha Técnica

Composição, voz e teclado: Meredith Monk
Músicos: Katie Geissinger (voz), Allison Sniffin (voz e teclado) e Bohdan Hilash (instrumentos de sopro de madeira)
Iluminação: Noele Stollmack
Design de som: Lucas Indelicato
Produção: Peter Sciscioli

Duração: 90min

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