24/11/2009
"Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás."
"Luisa se Estrella Contra su Casa" trata-se de uma das peças que eu mais tive receio de assistir. Talvez por ter formado pré-concepções ou quem sabe devido ao meu espanhol, que não existe. O público da última apresentação, no domingo (20/09), era consideravelmente grande; entretanto, meu receio permanecia. Já no Museu do Trabalho, me sentei e esperei as luzes, que logo vieram. No interior da grande casa de papelão (que ia desde Seven Boys à Rasip) ouvia-se uma voz feminina estridente. Não somente a casa era de papelão, mas também a árvore e o restante do cenário. O objetivo era simbolizar a fragilidade do lar – e da vida – de Luisa. Eis que um aspirador de pó ambulante (dei-me conta disso apenas no fim da peça) cruza o palco com sua movimentação moderada e calculada arrancando gargalhadas da platéia, que certamente apreciou a ousadia “nonsense” do personagem com cabeça de lata, o inocente Odex. Se ainda tinha alguma ponta de receio, a mesma foi exterminada quando surgiu uma figura histriônica usando saia comprida, peruca negra e sapatos gigantescos. Luisa: a palhaça sonhadora, a argentina desvairada que conquistou o público na hora.
“Eu tenho uma cabeça e a uso bastante”
Seu confidente é Odex, sempre repreendido por comprar revistas de moto. Provavelmente por Luisa estar traumatizada com o acidente de trânsito que causa a morte do namorado Pedro. Mas para o contentamento alucinado de Luisa, Pedro reaparece do além várias vezes, em busca de uma escova de dente. Como instrumento de evasão, Luisa entrega-se ao cotidiano rotineiro fazendo empreitadas em refúgios onde o tempo não passa, não há mudanças de temperatura ou stress: corre ao supermercado (a casa de papelão possui uma estrutura de rodinhas, que permite moldar o cenário desejado). Também o rádio aparece como um subterfúgio, ao passo que a protagonista está sempre censurando a melodia repetitiva do vizinho violonista, que se constitui como a trilha sonora da peça.
“Minha casa é inquieta, não perco a cabeça, mas a casa”
Até mesmo um frango ganha destaque em cena, aparece como o jantar que, surpreendentemente, está vivo. Já cansada de sua fuga, Luisa começa questionar a si mesma se não está igualmente morta; mas conclui que está deprimida pela solidão e a carência. Uma das cenas mais marcantes e de potencial dramático é a interação de Luisa com seu namorado. Empolgadíssima, diz que o ama; em contrapartida, Pedro dá um leve sorriso e diz: “-Não sinto nada”. Luisa chora. Silêncio.
Pedro e Odex fecham-se dentro da casa, os desvarios de Luisa partiam. Desolada, caminha rente à platéia. Focada em apenas um holofote de luz, transpira toda a dor que o corpo e a alma possuem, encontra-se a menos de um metro do primeiro espectador. O sorriso antes largo é agora moderado. Luisa levanta os ombros e suspira; as luzes apagam.
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