10/03/2012

A Puta e a Santa




Boneca Teresa
possui três pontos de sustentação: o nível de tensão atingido, o jogo das duas atrizes e o texto dramático do porto-alegrense Carlos Carvalho. São esses os elementos que seguram e preenchem adequadamente os 50 minutos da peça teatral.


Sapatos altos, meia arrastão, vestido vermelho decotado, maquiagem, rabo de cavalo e linguajar de baixo escalão: essa é Valdinete, a prostituta que inicia a peça sentada em uma cadeira de delegacia, semi-iluminada por uma luz violeta. Ela diz que vai narrar o ocorrido. A peça é um grande flashback, no qual as cenas da delegacia aparecem fragmentadas, sempre que a luz geral diminui e luz violeta surge.


Valdinete escuta um barulho e vai até o fundo do palco para verificá-lo, alegando que está armada e não hesitará em usar sua navalha. Sapatos, saia marrom, blusa bege com babados, bolsa, cabelo amarrado e conduta moral: quem aparece é Gelsi, a mulher direita que só veio até essa casa a pedido do Seu Rubão, para ouvir alguns discos. No início Valdinete ameaça a mulher com a navalha, depois elas conseguem travar um diálogo com o mínimo de sossego e compreensão. São donas de temperamentos muito diferentes, tendo apenas um traço em comum: a perda dos filhos. Enquanto Val abandonou o filho no hospital, Gelsi fez um aborto. No meio da peça elas encontram um baú com bonecas sem cabeça, provavelmente simbolizando a perda dos filhos.







As personagens passam a peça inteira trancafiadas dentro de uma casa. Segundo Gelsi, seu Rubão foi comprar bebida. Mas para Valdinete quem foi comprar bebida foi o seu Macedo. Então elas começam a achar que foram enganadas, principalmente a prostituta, que tenta sair arrombando as portas, mas falha. Enquanto isso, Gelsi dissimula estar muito bem e apenas estar esperando, mas logo uma dor começa a crescer dentro dela, ficando cada vez mais pungente e insuportável. Os diálogos são rápidos e com boa comicidade, fazem surgir o interesse e a concentração, mas isso também é merito da atuação.


Os ensaios de Boneca Teresa iniciaram em fevereiro de 2011, o que significa que o elenco teve pouco mais de um mês para trabalhar na construção das personagens, no jogo e nos elementos da Análise Ativa, segundo Stanislavski. Mesmo que as atrizes já tivessem algum esboço dos papéis, o resultado é muito satisfatório, considerando o curto tempo disponível. Jordana de Moraes (Gelsi) se apresenta exacerbada, porém segura. Ela exagera na atuação, mas nunca deixa a peteca cair, sempre consegue o que pretende, acreditamos na mulher frágil desesperada pela manutenção de sua moral e bons costumes. Ela tem um texto e uma atuação mais cômicos do que Larissa Gonzalez (Valdinete), que precisa trabalhar um pouco mais em sua personagem para roubar a cena como faz Jordana. Talvez explorando o lado mais grotesco e ridículo da prostituta, a atriz colha frutos mais maduros






“Boneca Teresa pra ti!” é uma expressão de indiferença perante o outro, um tipo de saudação ao contrário. É o que o Macedo ou Rubão fez com Valdinete ou Gelsi, talvez nem elas sejam duas, mas apenas dois lados da mesma moeda.


Ficha Técnica

Texto: Carlos Carvalho
Direção: Jordana de Moraes e Larissa Gonzalez
Assistência de Direção: Dionatan Rosa e Cicero Melo
Elenco: Jordana de Moraes e Larissa Gonzalez
Cenário: Nani Farias e Andressa Venturini
Sonoplastia: Cicero Melo
Figurino e Maquiagem: Iuri Lopes e Cicero Melo
Iluminação: Dionatan Rosa
Produção: O grupo

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