16/01/2010

" - Oi, Ana! "



Era a primeira vez que eu assistia à "POIS É, VIZINHA". "Una Donna Sola" foi escrita pelo italiano Dario Fo (ganhador do prêmio Nobel) e sua esposa Franca Rame em 1991, estreando nos palcos gaúchos em ´93. A adaptação de Deborah Finocchiaro, quem igualmente dirigiu e interpretou, teve mais de 500 apresentações, entretanto, era a primeira vez que meus olhos e ouvidos tinham contato com essa tragicomédia repleta de humor negro. Espero não ter desinteressado o leitor com essas definições por vezes relativas ou causadoras de receio. Maria (Deborah F.) não causa receio, pelo contrário, causa é recreio. Foram raríssimas as vezes que desviei o olhar daquela mulher engraçadíssima, pueril e, sobretudo, bem-humorada!

A hipnotizadora não é dona de palacetes, senão dona-de-casa. Elétrica e ingênua, faz amizade com a vizinha Ana em poucos minutos mas com muitas palavras. A palhaça não fecha a boca um instante, contando com vivacidade e eloquencia episódios de sua vida. Ana existe. Ana é a plateia que ri de si mesma. Ana sou eu, tu também.

O cunhado semi-paralítico que precisa de ajuda para urinar, o vizinho tarado, o marido agressor, o telefone que não pára de tocar e o bebê esfomeado vão transformando Maria em uma faxineira obcecada, reclusa e conformista. Mas nunca, jamais, mal-humorada. "- Tô acostumada", ela dizia.

O clímax do monólogo é a revelação do adultério cometido por Maria e seu jovem professor de inglês. Maria descobrira a paixão no rapaz. Justamente por esse motivo que o marido Aldo, gaudério macho, tranca a esposa dentro de casa. A protagonista está sempre envolta em enrascadas com escolhas de vida ou morte (mesmo que essa seja alheia).

Considerada uma das melhores atrizes gaúchas, Deborah tem consciência de cada objeto que põe em cena, espremendo suas utilidades na narrativa de forma original e ousada. Torce e retorce a máscara sem medo de ser caricata, usa-se de pantomimas a todo o momento. Corre, pula, berra e suspira sem que o ritmo seja perdido. Amei o trabalho com a voz, pesquisando-se do agudo ao grave, do fanho ao nasalado. Destaque para a mãe do rapaz: uma fumante com voz de veludo bordô.

Acabei por descobrir em Maria uma menina espevitada e corajosa, sem medo de ser ela mesma. Benditas foram as gargalhadas nessa montagem verossímel e potente.

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