12/12/2009
"Cometeu-se a Peça"
Dizia o Gênesis que o solo da Torre de Babel era fértil. A Cia Babel de Teatro tem, se não tudo, muito para dar certo. Que a pretensão do grupo seja comedida, diferentemente da Torre. Conjugo verbos no futuro porque a peça em questão é a primeira da companhia.
O animal predileto do Sr. Keuner é justamente o nosso mamífero quadrúpede: o elefante. Símbolo da união entre astúcia e força. "Por onde esse animal passa, deixa uma larga pista. Ele é camarada, entende brincadeiras. É tão bom amigo quanto bom inimigo. Suas orelhas são reguláveis: ele ouve apenas o que lhe interessa. Em toda parte é igualmente amado e temido. Ele tem uma pele espessa, na qual se quebram as facas; mas sua índole é delicada. Ele é capaz de ficar triste. É capaz de se enraivecer. Ele gosta de dançar.Ele ama as crianças e outros animais pequenos. Ele é cinza e chama a atenção com sua massa. Ele não é comível. Ele é bom trabalhador. Ele gosta de beber e fica alegre. Ele faz algo pela arte: fornece marfim." Esse trecho pertence à obra brechtiana "Histórias do Sr. Keuner".
"ELEFANTILT", com direção de Humberto Vieira, foi adaptado do "Apêndice: Filhote de Elefante". "Elefantilt" é a junção da juventude com a sabedoria, do discípulo com o mestre. O Estúdio de Fotografia La Photo dispunha mesas para a plateia, que ficava no mesmo nível dos atores. Somos parte da peça (nesse caso, um exercício) que, propositalmente, faz parte de outra peça. E não havia de ser diferente, tratando-se de Brecht.
Um batalhão de soldados de guerra reúnem-se em uma taberna a fim de amenizar a fadiga e esqueçer as mazelas com a velha e eficaz solução: a bebida.
Outra distração era uma representação artística exaltada pelo decadente escritor de peças que frequentava a taberna. Ele fazia questão de ressaltar a qualidade
de sua trupe e, principalmente, sua posição de dramaturgo; é ele quem inicia e finaliza a peça, com uma boa interpretação de Yheuriet Kalil.
Os soldados (interpretados pelas atrizes) mostram-se desnorteados e totalmente histriônicos ao apresentarem a tão aclamada peça, que tem uma narrativa absurda: o julgamento de um filhote de elefante (Vivian Salva) que, supostamente, tenha assassinado a mãe com uma jarra. O réu é julgado por uma bananeira (Tatiana Vinhais) e a lua (Daniela Guerrieri), faz parte do júri.
Contei umas cinco ou seis intervenções musicais com repertório que ia de "Another Brick In The Wall" a "Atirei Um Pau No Gato". O esquema das intervenções era o mesmo: a luz diminuía e a neutralidade corporal e facial tomava conta. Creio que essa seja uma das estratégias do distanciamento proposto por Bertolt. Lembro de ter rido bastante.
O figurino: ah, o figurino! Palmas para Fabrízio Rodrigues, que manejou um figurino muito versátil e criativo. Destaque para a tromba (aquilo era um drad?!) do filhote de elefante e o vestido da matrona da taberna (Richard Biglia). Sim, a matrona: eu a via, mas não via. A voz e o corpo desmentiam a condição de matrona. A maquiagem estava estupenda, mas não encontrei o nome do criador da façanha. Ou será que foi criadora? Enfim, parabéns! - E não é que descobri: eles mesmos. -
Adorei a atuação minimalista de Maiquel Klein, que passou a maior parte do tempo sentado - mas de forma alguma passivo -, gesticulando uma faca. Não posso esquecer da Tatiana Vinhais, com seu juíz-banana meio Carmen Miranda, o qual segurou firme até o encerramento do engenhoso, agradável e curto "Elefantilt".
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Querido Guilherme, ótima crítica!
ResponderExcluirContinue escrevendo!
Parabéns!
Gostaria apenas de corrigir uma passagem de tua resenha. O ator que passa a maior parte do tempo gesticulando uma faca é Maiquel Klein. Eduardo Tartarotti é o soldado guitarrista.
Grande abraço!
Valeu, Kalil. Tá ajustado ;o)
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