Augusta Ferraz, um dos
grandes nomes do teatro pernambucano, interpreta Guiomar, uma louca professora
de história. Com o texto de Lourdes Ramalho, escrito especialmente para a Augusta,
a atriz representa ao público a sua versão de como foi construída a história do
Brasil. Inicialmente, o espectador é colocado à escuta dos causos que estão sendo
contados. É perceptível o grande trabalho vocal da atriz. Augusta Ferraz
apresenta exemplar domínio de sua voz quanto ao sotaque utilizado pela personagem,
predominando o português de Portugal, fazendo com que o espectador preste maior
atenção ao texto dito para melhor compreensão deste. Principalmente onde há
canções em que, ao mesmo tempo em que são executadas com tamanha excelência,
levam-nos ao sertão nordestino.
Por diversas vezes eu sentia
o calor da região, a seca, a miséria, as dores da personagem. Tudo isso a
partir da voz de Guiomar e, também, da iluminação. Cores quentes. Alaranjadas.
Avermelhadas. Sensações que eram transmitidas aos olhos do espectador. A
transmissão de sensações aumentava gradualmente durante o espetáculo. Houve o
momento em que as luzes da plateia foram todas acesas para, então, Guiomar
entrar em contato direto com o público.
"O senhor aí tem um
trocadinho?"
"A senhora tem uma
bala? Prova primeiro para eu ter certeza que não é veneno."
O público tornava-se
protagonista nessa cena de interação.
O público tornava-se
protagonista nessa representação da realidade.
Por quantos moradores de rua
passamos durante o dia?
Quantos deles nos pedem
algo?
A quantos deles atendemos
aos seus pedidos?
Você já conversou com algum
deles?
Você já olhou nos olhos de
algum deles?
Olhos que gritam. Gritam
verdades que não estamos acostumados a vivenciar. Acreditar. Enxergar.
Enxergamos não só uma peça
de teatro. Mas uma representação forte da realidade. Aquela que não faz parte
da maioria das realidades ali presentes.
Quantas Guiomar existem por
aí?
Quantas?!
Quantas...
Por
Manu Goulart
Ficha Técnica
Direção: Moncho Rodrigues e Augusta Ferraz
Autor: Lourdes Ramalho
Dramaturgia cênica: Moncho
Rodrigues
Atuação, desenho de luz,
adereços, pesquisa musical e administração: Augusta Ferraz
Figurino: Marcos Pinto
Assistência de produção e
palco, fotografia, filmagens: Alcides Ferraz
Montagem e execução de
iluminação: João Guilherme de Paula
Realização: Grupo Pharkas
Serthanejaz, Augusta Ferraz
Duração: 70min